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Sendo fotografada pelas lentes de Juliette Cassidy, Naomi Scott posa em frente de diversas paredes artísticas usando blazer, jaqueta de couro e vestido das grifes Burberry, Miu Miu e Louis Vuitton. Além de um photoshoot incrível e sendo a capa de Setembro da Teen Vogue, a atriz britânica marcada por seus papéis em filmes “blockbusters” se abre sobre sua improvável caminhada até o topo. Confira entrevista completa e traduzida abaixo:

Mal passou a hora do almoço e Naomi Scott já está mostrando fotos de seu eczema para mim, rolando a tela por um álbum completo de sua condição dérmica que a deixa com coceiras, feridas e sangue. “Antes, eu diria ‘esconde, esconde tudo!’” ela diz, dando play em um vídeo em que sua assistente Tiff está cuidadosamente enfaixando a sua cabeça ensanguentada. Naomi parecia muito mal e exausta. Assistimos por alguns segundos, e Naomi se mantém alegre com um comentário: “Quando as pessoas pensam sobre eczema, elas pensam ‘oh, é só um arranhãozinho’, ou ‘bebês pegam eczema’. Tipo, não garota!”

Não era assim que eu esperava passar a tarde com a estrela de As Panteras, mas outra vez mais a Naomi é uma inesperada inspiração de ar fresco. Para uma legítima Princesa Disney – a atriz inglesa-indiana interpretou a Jasmine no remake de Aladdin desse ano –  ela tem zero de arrogância. Quando ela me apresentou seu marido, Jordan Spence, um jogador profissional de futebol, ela brinca que ele é o que recebe escolta de modelo, quando eles saem. “As pessoas ficam tipo ‘quem é essa?’ e eu fico tipo, bem, eles não me perceberam,” ela ri. “Só a pequena, baixinha ‘eu’, tipo -” ela acena freneticamente como se tentasse chamar a atenção de alguém “-heeeey!”

Mas tudo isso vem depois. No momento, Naomi está convicta – convicta – de que eu preciso ver essas fotos. Ela mostra uma foto em que seu rosto está ferido com violentas e escamosas manchas. Parece doloroso, eu observo, ciente de que isso provavelmente é seja a coisa a dizer que menos ajuda alguém com uma séria condição médica. Naomi afasta o meu constrangimento. “Acho que é importante não esconder todas as nossas imperfeições. Você sabe, faz parte de quem eu sou.”

Essa é a Naomi inteiramente – ela não poderia ser nenhuma outra pessoa se tentasse. A mulher de 26 anos me atraiu com sua pura força de personalidade no instante em que ela se afundou perto de mim no sofá como uma amiga perdida há tempos. O diretor Guy Ritchie de Aladdin teve uma palavra para seu carisma: “intergalático.” Não são só os seus grandes e expressivos olhos castanhos ou o seu hábito de dar ‘toca aqui’ toda vez que ela concorda com você. É uma superpoderosa relacionabilidade – a Naomi põe você num dia muito, muito bom. Você se recarrega até o 11. Não, 14. No mínimo.

Não é de se surpreender que a diretora Elizabeth Banks de As Panteras a selecionou como Elena, a técnica informante de olhos arregalados que cai na organização de espionagem – uma perfeita representante da audiência enquanto redescobrimos a Agência Townsend, 16 anos após o últimos lançamento da franquia nos cinemas. “Ela realmente te capacita a fazer suas próprias escolhas,” Naomi diz sobre a direção de Banks no set ao lado de suas co-estrelas Kristen Stewart e Ella Balinska. “Isso é ótimo pois você não está procurando por alguém que te diga o que fazer o tempo inteiro.”

Crescida em Essex, um condado inglês mais conhecido por reality shows como TOWIE (pense: Jersey Shore com mais manicures), Naomi era uma assumida “deslocada” que não se encaixava bem na escola. “Eu ficava às vezes um pouco fora da curva e eu não tinha um grupo ou uma panelinha,” ela conta à Teen Vogue. “Onde eu imaginei que mais se parecia com o meu lugar era a prática de banda. Ou no drama. Esses eram os lugares onde eu me sentia confortável.”

Seu pai é um pastor em uma igreja local, que ela ainda frequenta com Jordan. “Nos conhecemos quando eu tinha 15 ou 16 anos. Foi uma daquelas situações em que nós éramos amigos, e então namoramos por quatro anos, e estamos casados há cinco anos.” Pensando no esteriótipo sobre ser uma filha de pastor, eu precisei perguntar – ela era rebelde? “Eu acho que eu era mais focada no que eu queria fazer,” Naomi diz diplomaticamente, “então eu sentia que eu não tinha tempo para essas coisas.”

O que ela queria fazer era cantar. Naomi cresceu ouvindo gospel, mas é um sinal distintivo de quão descontraída é sua igreja que “Don’t Speak” do No Doubt foi o primeiro solo que ela performou. “Eu deveria ter uns 11, 12,” ela diz. “Essa foi a primeira vez que meus pais disseram ‘oh, hmmm, OK.’

Quando adolescente, ela se colocou em audições musicais, inclusive algumas que ela mal fazia ideia de para que estava fazendo o teste. Aos 17, ela até tentou entrar numa girl band em frente a um painel de experts da indústria incluindo Pete Wentz do Fall Out Boy. “Fiquei tipo, eh?” Todos os outros esperançosos estavam na casa dos 30 “calçando botas até o joelho, dando muito o [ar de] ‘eu serei o próximo Pussycat.'” Naomi apareceu em um casaco sem maquiagem e cantou Stevie Wonder. “Eu lembro de alguém vindo atrás de mim e dizendo tipo, ‘Todo mundo te amouu – só que você  é muito nova.'”

Mesmo agora, Naomi está trabalhando com música. Seus últimos singles tiveram mais em comum com R&B calmo de Jorja Smith e Jessie Ware do que melodias de grandes programas da Disney, apesar de que qualquer fã da trilha sonora de Aladdin saberá que ela tem competência para esses, também. “Eu acho que foi uma verdadeira bênção disfarçada no fato de eu não ter apertado esse botão de exposição,” ela diz sobre o seu quase-erro com o estrelato popular. “Eu me sinto tão abençoada por ter sido meio protegida disso […] Agora eu sei em que posição estou e o que quero dizer, eu sei quem eu sou.”

Em 2011, Hollywood acenou com um papel em Terra Nova, a série de ficção científica da Fox produzida executivamente por Steven Spielberg. “Eu deixei a escola na metade do meu Nível-A [provas]. Eu fui ver o diretor e ele foi ótimo – muita gratidão por ele – ele foi tipo ‘Eu acho que você deveria ir.'” Terra Nova foi cancelada depois de uma temporada, e isso iniciou um período que Naomi descreve como sendo o “garota quase”; perdendo oportunidades, papéis que ela desejava desesperadamente indo para as mãos de outras pessoas. Em um caso particular desolador, ela foi para o elenco e equipe em cena para o Perdido em Marte apenas para descobrir que sua cena foi cortada (“Não os culpo, eu provavelmente fui  horrível”).

Seu passado multirracial – o pai de Naomi é branco e sua mãe é Gujarati por meio de Uganda – também confundiu Hollywood. “Tem uma coisa sobre alguém [ser] como… ‘ela não é branca, ela não é negra, ela não é latina, o que ela é?’” Naomi diz. “Tiveram alguns destaques que eu tentei que eu acho, recentemente, que eu era talvez a outra escolha, a escolha ‘exótica’, ou a ‘outra’.”

Naomi não viu muitas pessoas na TV que parecessem com ela durante sua infância – daí o seu bem documentado amor na adolescência pelo filme inglês-indiano Bend It Like Beckham, Mulan (“em termos de personalidade, eu me senti conectada [a ela]”) e, claro, Aladdin. Quando ela visita seu lar, ela vai direto para o dahl e o curry de quiabo de sua mãe. “Não me entenda mal, tinham momentos na infância em que você fica ‘oh eu não me sinto indiana o suficiente.’ Mas agora eu estou em um lugar onde fico, ‘quer saber, está tudo bem. Isso não me faz menos indiana, ou menos meio-indiana,” ela diz. “Meus dois pratos favoritos – um é o curry da minha mãe e outro sendo um jantar assado. E isso sou eu em poucas palavras.”

A fase de “garota quase” da Naomi terminou uma vez que a Disney veio batendo na porta na forma de Aladdin, mas também coincidiu com sua pior crise do eczema. “Eu pensei que talvez depois das filmagens, isso tudo iria acalmar, mas entrou em erupção,” ela disse, mostrando suas cicatrizes e crostas de feridas em suas articulações. “Estava por todo o meu corpo, eu ficava coçando à noite, e toda noite [havia] sangue nos lençóis.” Ela só parou de esconder com maquiagem em sua última tour de imprensa de Aladdin, dizendo a si mesma: “Espera um segundo, Nay, você quer esconder [isso] porque você está jogando nos mesmos padrões de beleza.”

Essa inocência – que se sente igualmente sem cuidados e considerada – é previsível para Naomi. Eu tenho amigos com eczema, mas eu nunca os escutei falar dessa maneira sobre isso – muito menos mostrarem fotos de seus piores dias. Ela tem um recado para qualquer um com circunstâncias debilitantes semelhantes: “Eu escuto você. Não é legal. Sabe aqueles dias em que você quer ficar na cama, onde você não pode mexer seu pescoço pois está tão machucado – eu estou com você. E eu te garanto, quanto mais você reconhecer isso, mais confiante irá se sentir.”

Por que falar sobre isso agora? “Isso era algo que eu queria falar especificamente nessa entre entrevista pois para a Teen Vogue  para mim, existe uma verdadeira “droga de falta de honestidade,” Naomi explica. “Se eu, de todas as pessoas, sou honesta sobre minhas imperfeições, então eu talvez possa fazer…” ela fraqueja. “Eu acho em uma garotinha de 14 anos e [como] isso poderia fazê-la sentir só um pouquinho melhor: ‘oh, ela tem isso e ela interpreta a Jasmine.’”

Hollywood é uma longa jornada desde sua igreja em Essex, mas é difícil de sentir como se sua cidade natal não estivesse orgulhosa dela. “Minha mãe sempre diz, ‘Melhor do que ter sucesso, eu prefiro que você seja significante,'” ela diz, antes erguendo as mãos em testemunho. “É tipo, ‘sim, mãe!'”

Fonte: Teen Vogue
Tradução & Adaptação: Equipe Naomi Scott Brasil