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Usando grifes como Prada, Balenciaga e Louis Vuitton a atriz Naomi Scott posou em um photoshoot vintage sendo fotografada por Collier Schorr para Another Magazine na edição Setembro 2019. Scott também concedeu uma entrevista para revista onde ela conversou sobre sua sua carreira, origens e muito mais. Confira a entrevista completa e traduzida abaixo: 

Através de seus pais pastores, sua casa conjugal em Essex e um papel no próximo As Panteras de Elizabeth Banks, essa atriz indiana-britânica está construindo os tipos de modelos que ela uma vez almejou

Em prateleiras de lojas de brinquedos ao redor do mundo, réplicas de 30cm de altura da Naomi Scott estão no mesmo nível que Ariel e Barbie, graças ao empoderamento que a atriz deu à Princesa Jasmine em Aladdin esse ano. Pessoalmente, ela prefere roupas de caminhada a organzas brilhantes e laços de fita; faz parte de seu considerável charme que ela consiga chegar ao tapete vermelho com um vestido rosa-chiclete do comprimento de um quarteirão em uma semana e estar servindo chá vestida com um moletom em Woodford na outra. Ela é a princesa da Disney que conhece a regra do impedimento e alegremente conversa com jornalistas sobre seu eczema, a atriz que nunca colocou um pé em uma aula de teatro (a não ser que você considere as peças da escola), e a protegida de Hollywood que fez seu lar a mil léguas de Tinseltown.

A mulher de 26 anos tem estado em sets de gravação desde sua adolescência, mas foi a audição para Aladdin que a levou para grandes letreiros ao pôr do sol. Após derrotar milhares de esperançosos, a atriz indiana-britânica fechou contrato com o filme de contos de fadas sem o clichê das danças do ventre enjoadas da versão animada de 1992, interpretando uma princesa madura menos interessada em encontrar um marido do que dominar sua voz política. Fato, não estamos falando Os Monólogos da Vagina – isso é a força da Disney, no fim das contas – mas quando você pensa nas milhares de meninas (e meninos) que compõe o público alvo da Disney, a mensagem que a vida é muito mais do que casar-se com um príncipe – voar em tapetes, acariciar tigres e se tornar sultana, para começar – tem um poderoso alcance.

Em 2017, o ano em que Scott fez o teste, 70,7% dos papéis principais nos filmes da Disney eram brancos. O que faz tudo mais doce pois, hoje, quando nos encontramos no café em Soho, Aladdin tinha acabado de alcançar 920 milhões de dólares na bilheteria mundial, enterrando o conceito de que um elenco diverso não possa fazer fortuna. “Nada mal, né?” ela diz com uma gargalhada. “Em audições no passado eu recebi esses comentários – ‘Ela é meio exótica, não sabemos exatamente o que ela é…’ Ou certas pessoas dizendo que quando se trata de protagonismo em um estúdio cinematográfico, essa garota venderá mais do que a outra. Mas esta concepção está sendo desafiada. Estamos vendo filmes com mulheres protagonistas fazendo milhões de dólares, filmes com um elenco predominantemente negro fazendo milhões, e isso é empolgante.” Esse ano, uma ninhada de recentes contratos – incluindo a Halle Bailey como A Pequena Sereia, e Lashana Lynch de Capitã Marvel supostamente no papel de uma negra, mulher 007 – sugere que Hollywood esteja progredindo. “Será na direção correta,” concorda Scott. “Um negócio como esse leva tempo para mudar. No início será uma reação ao que está acontecendo na cultura, com o passar do tempo você vai ver – talvez os executivos tenham que ser mais diversos, as pessoas tomando as decisões precisam ter diferentes perspectivas.”

Após nossa entrevista hoje, está fora para gravar algumas falas em seu próximo blockbuster – este outono ela estará seguindo sua emancipação dada à Princesa Jasmine com um modernizado As Panteras para a geração atual. “Eu sei, é hilário,” ela diz. “Estou fazendo um monte de reboots. É como se fosse, ‘Precisamos fazer o reboot desse filme com uma pessoa morena – Nay, tá livre?’” A franquia seguiu em frente a partir de Farrah Fawcett, e do esforço um pouco tolo dirigido por McG em 2000 (que focou um pouco demais na Cameron Diaz). A atriz e diretora Elizabeth Banks governa o filme de 2019 de maneira mais consciente, com Kristen Stewart, Scott e a londrina Ella Balinska como o persistente trio de detetives que combatem o crime “Eu acho que mulheres podem fazer qualquer coisa,” Stewart diz firmemente na abertura do trailer, antes de socar o sujeito misógino três vezes na cara.

É um filme sobre mulheres no trabalho,” Scott diz simplesmemte. “Integrantes de um grupo que erguem umas às outras.” Não é inflexível, Banks contou ao The Hollywood Reporter esse ano, sobre “os namorados que elas não viam muito, ou os gatos que elas não alimentavam, ou a mãe que elas não chamavam”. Em verdade, foi a ética de trabalho de Scott nas telonas da adaptação de Power Rangers em 2017 (ela interpretou a super-heroína rosa, protegendo a terra das gargalhadas da feiticeira de Banks, Rita Repulsa) que chamou a atenção da diretora. “Ela sabia como eu trabalhava e me comportava no set, e isso é realmente importante pois você estará nas trincheiras com essas pessoas,” diz Scott. No filme de Banks, gravado entre a Alemanha e Istanbul, haviam armas e sessões de treinamentos de acrobacia e não sequências de corrida na praia em câmera lenta. “Quando criança eu queria tanto fazer esse tipo de papel,” diz Scott com entusiasmo. “Eu e minhas amigas sempre brincávamos de espiãs, mas ver uma mulher na tv resolvendo seus próprios problemas, sendo durona, uma super-heroína, era tão raro. Eu me senti emocionada quando vi Robin Wright e Gal Gadot em Mulher Maravilha. Não importa o tipo de filme que você gosta, isso é empoderador.”

Voltando à Hounslow dos anos noventa, onde Scott nasceu com uma mãe Gujarati-Indiana e um pai inglês, os modelos nas televisões eram raríssimos, até Bend It Like Beckham de Gurinda Chadha ser lançado. Na adolescente Jesminder obcecada por futebol, que vivia em uma casa geminada debaixo da rota de pouso de Heathrow, Scott encontrou uma parente de espírito – ela tinha jogado bola naqueles mesmos campos. “Eu nunca tinha visto um filme sobre uma indiana-britânica, vinda desse não tão glamuroso lugar que eu vim,” ela diz. “Era tão difícil de encontrar algo assim.” Em sua própria família, entretanto, as mulheres forneceram um formidável exemplo: sua avó, nascida em Uganda de pais indianos, deixou o país durante o regime brutal de Idi Amin na década de setenta e viajou até a Inglaterra com suas dez crianças. “Minha avó, em toda a sua força, veio para a Inglaterra e disse às suas filhas – eram nove delas – ‘Vocês podem se casar com quem quiserem.’ Ela sabia que partes de sua tradição não eram saudáveis, e ela era capaz de pensar a frente, o que é incrível. Minhas tias realmente integram isso agora – estão todas ao redor do mundo, fazendo todo tipo de coisa, e elas são tão representativas de quem minha avó foi, e daquilo que talvez ela não fosse capaz de fazer. E isso se estende até mim.”

Os pais de Scott são ambos pastores e ela cresceu ouvindo gospel, imersa na rica vida musical da igreja deles. A família trocou Hounslow por Woodford quando ela tinha oito anos, e a Bridge Church, uma comunidade multicultural que começou no salão de uma escola, tornou-se o lar doce lar onde Scott encontrou sua voz. “Eu tinha amigos na escola, mas eu nunca estava em um grupo. Tinham momentos em que eu não tinha ninguém com quem passar o tempo, então eu andava por todo o intervalo como se eu tivesse algum lugar para onde ir. Coitada de mim!” ela brinca. “Mas era por isso que eu gostava de ir para a prática de banda ou o coral, porque todo mundo era legal com os outros lá.” Ela tinha 11 anos quando cantou I Say a Little Prayer e percebeu, junto com o restante da congregação, que poderia cantar. Alguns anos depois, a antiga membro da Eternal, Kélle Bryan apareceu na igreja e encontrou a Scott de 15 anos no palco. “Eu estava cantando If I Ain’t Got You da Alicia Keys, com um MIDI terrível no fundo,” ela recorda. Bryan inscreveu a adolescente à sua agência de talentos no centro e Scott se lançou em audições – às vezes sem ter ideia de para que ela estava fazendo o teste – com a mesma energia entusiasta que ela traz hoje para o set. “Foi quando gravadora estavam chamando pessoas para estarem em bandas de meninas ou bandas de meninos, e eu sempre era a mais nova lá. Tinham essas mulheres com saltos e eu cheguei, em uma longa e larga camiseta e minhas botinhas, cantando um soul,” ela lembra. “Teve uma vez –isso é tão vergonhoso – nós tínhamos que fazer estilo livre em frente aos jurados. Eu dancei Summertime da Wiley, e como eu juntei dinheiro no início, eu bati na minha cara. Eu lembro de pensar, aguenta firme, aguenta firme… não consegui o trabalho.” Mas ela recebeu o aviso estranho (“Eu acho que tem um seguro comercial holandês algum lugar por aí”) e então seu primeiro encontro com a Disney, o programa de esquetes Life Bites, que Scott gravou durante suas provas de finalização do Ensino Fundamental – ela faria suas provas pela madrugada, e então iria trabalhar. O filme adolescente Lemonade Mouth veio em seguida, um tipo de encontros matinais de Rock na escola, antes dela desaparecer em uma rachadura no espaço-tempo para 85 milhões de anos no passado, na série de ficção científica Terra Nova produzida por Spielberg. Então o que seus pais pensaram sobre sua filha faltar as provas de conclusão para combater carnotauros de computação gráfica na Austrália? “Eu vi dois extremos,” Scott responde. “Tem a clássica questão étnica de, ‘O que é essa atuação? Doutora, não?’ E também tem os pais que forçam – e acredite em mim, eu vi alguns assim em LA, não é legal de assistir. Mas meus pais são super legais, e não ficaram chocados também. Nós só nos sentamos na minha cama e conversamos sobre tudo antes de tomarmos qualquer decisão.” Se os holofotes não a cegaram, parte parece ser graças aos seus pais e à fé com a qual cresceu, menos força limitante do que a base que garantiu que a loucura do último ano nunca acabasse com cliques de paparazzis de Scott desmaiando em uma balada às cinco da manhã. De qualquer forma, esse é mais como o fim desses dias. “Eu acho que quando você não é autorizado a questionar, é quando você se rebela. Eu sempre fui muito aberta com meus pais, sempre poderia falar com eles, então eu não me sentia reprimida. Com certeza eu tenho esse espírito aventureiro. Eu quero tentar coisas, essas sou eu. Mas existem certas coisas que eu sei na minha cabeça – isso não é bom para você.”

Ela continua frequentando a igreja (quando o cronograma de filmagens permite) e ela é aberta sobre sua fé em entrevistas. “Esse é meu sistema de crença e você tem o seu e nós podemos coexistir e aceitar um ao outro por quem nós somos. Isso soa correto para mim. Mas ainda estou descobrindo, eu sempre estarei questionando. Meu pai e eu temos longas conversas. Eu tenho mais interesse em sentar e conversar do que ficar gritando coisas no Twitter. A igreja é frequentemente vista como uma instituição que está lá para manter as pessoas em uma caixa. Eu acho que deveria ser o contrário. Deveria ser o local onde você possa ser completamente quem você é e dizer, ‘Yo, eu estou uma bagunça.’ Onde as pessoas podem falar honestamente, onde tudo vem do amor, em oposição a julgar você quando eles sequer o conhecem.”

Se a igreja foi onde ela encontrou sua fé, sua música, e até sua primeira agente, também a uniu ao seu marido, o jogador de futebol Jordan Spence – a dupla se conheceu quando adolescentes. Scott se casou aos 21, e julgando pelas fotos que ela e Spence postam no instagram, eles continuam apaixonados (apesar de eternamente condenados a serem abordados por fãs obsessivos da Disney que não conseguem digerir a Princesa Jasmine amando ninguém que não seja o Aladdin). “Nós éramos muito novos quando nos casamos. Falamos sobre isso hoje, e se uma jovem de 21 anos viesse até mim dizendo ‘estou pensando em me casar,’ eu diria ‘Er, não,'” ela ri. “Mas somos tão próximos, nós conduzimos para que possamos crescer juntos mais do que separados. Somos muito honestos um com o outro –provavelmente honestos demais! – e damos um jeito. Ele é incrível. Se você o conhecesse, veria que não é difícil. Eu era a noiva mais tranquila de todas pois eu não estava nervosa de modo algum sobre isso.”

Sentada perto de Scott hoje – e ocasionalmente acotovelando-a de lado, sem expressão, quando ela passa dos limites de entusiasmo – está a sua donzela de honra, prima e agora assistente, Tiffany Pope. As amigas viajam juntas, transformando os olhos avermelhados e o descanso do aeroporto, quartos de hotéis e conferências de imprensa em uma aventura compartilhada. “Nós rimos tanto quando estamos juntas, ela é uma criaturinha muito divertida,” diz Pope, que recorda da dupla colocando performances de horas de duração quando crianças, tudo instigado por Scott. “Temos apenas duas semanas de diferença, e crescemos basicamente inseparáveis.” Manter sua prima ao seu lado é um meio de Scott permanecer presa às raízes com a escalada de celebridade. “Minha família cuida de mim,” diz Scott. “Trabalhar com a Tiffany significa que tem alguém que pode manter minha perspectiva, que pode dizer ‘Sai dessa, para de ser besta.’ É ter pessoas ao seu redor que serão honestas, que não serão puxa-saco,” ela diz, “e não viver em LA ajuda.”

Seu lar está a um mundo de distância – em Essex por hora, embora tenha sido nômade por alguns anos. “Nós somos tão acostumados em pular de lugar para lugar, com o futebol de Jordan e minha atuação,” ela diz. “Quando chegarmos no ponto de uma casa de família, então eu comprarei algo bem legal em uma loja de antiguidades, mas por agora são prateleiras da Ikea.”

Com muitos roteiros chegando na sua porta, uma casa fixa não é provável tão cedo, mas Scott está claramente saboreando o momento. Ainda que nova, ela trabalhou duro para chegar aqui e teve alguns contratempos – sua aparição em Perdido Em Marte de Ridley Scott atingiu o quarto das cenas cortadas, um fato que ela só descobriu quando sentou, bem vestida, na premiere. “Meu marido sempre diz para mim, é uma maratona, não uma corrida. Especialmente na atuação, My husband tem essa pressão de olhar para a esquerda e para a direita e se comparar, mas mesmo aquelas garotas que você sempre vê nos mesmos testes que você, elas são tão diferentes de você. Você precisa focar em o que você tem para trazer,” ela diz. “Eu tive esses momentos em que você pensa, ‘eu quero ir agora, estou pronta,’ mas eu olho para trás e percebo que eu não estava. Agora eu tenho a perspectiva das coisas – agora sou uma mulher. Aos 17, 18 anos você é um bebê, de verdade. Kristen [Stewart] é um ponto fora da curva, passando por aquilo que ela passou tão jovem. Ela me falou quão assustadores os paparazzis poderiam ser quando ela era mais nova. Mas ela está agora em uma posição com essas escolhas espertas de filmes, como Personal Shopper, e ela está tipo, ‘Isso é quem eu sou'”

Stewart emergiu de seus anos de Crepúsculo redefinindo o que é ser uma estrela de Hollywood, em todo o seu nervoso e imperdoável esplendor. E à sua maneira, Scott está fazendo o mesmo. Como se os blockbusters não fossem o suficiente, ela lançou dois EPs (e está trabalhando em música nova), dirige videoclipes e produz. Hollywood continuará chamando – e ela não desperdiçou a voz que lhe foi dada – mas La-La Land não é o coração pulsante do universo. Ela recentemente postou uma foto de si mesma aos 15 anos sorrindo para a câmera, com a legenda: “O único conselho que eu gostaria de dar para minha versão adolescente seria: não tenha medo de pedir pelo que você quer.” Ela está seguindo esse conselho agora, esculpindo um idiossincrático e multifacetado papel para si mesma que defende a definição e permanece verdadeiro a quem ela é.

Fonte: Another Magazine
Tradução & Adaptação: Equipe Naomi Scott Brasil