A nova Princesa Jasmine da Disney fala com Clarisse Loughrey sobre o que leva para modernizar um clássico para uma nova geração.
“Eu não tenho tempo para me preocupar com o que as pessoas me rotular,” diz Naomi Scott. Suas palavras poderiam muito bem servir como um manifesto para a sua geração. A mulher de 26 anos, como muitos de seus contemporâneos, recusa ser acorrentada: ela é uma atriz, cantora, produtora musical e diretora. Ela é a Power Ranger rosa, do filme de 2017, e uma das Panteras, com um novo reboot chegando aos cinemas no final desse ano. Será, entretanto, mais conhecida em breve como a Princesa Jasmine, do remake em live-action de Aladdin da Disney. E, assim como Scott, essa nova Jasmine não será facilmente definida. Ela tem muito mais em sua silhueta do que esperar príncipe aparecer.
“Ela é tanta coisa em tantos pontos diferentes,” Scott explica. “O que eu amo é que você pode ser forte e pode chorar. Você pode ser forte e se sentir fraca.” A atriz diz que a palavra “atrevida” aparece bastante ao descrever a personagem, mas ela acha a palavra um pouco redutiva. “Sim, ela é atrevida, mas o mais importante é que ela na verdade está lutando pela liberdade de escolha de seu povo,” ela diz. “Isso é o feminismo, não é só um comentário gracioso.”
Para uma atriz à beira do estrelato, Scott não parece excessivamente inquieta sobre cultivar uma imagem. Ela está feliz só por ser ela mesma. Nós estamos em um luxuoso quarto de hotel em Londres – empoeirado em cada extremidade dos tipos de sofá que ameaçam te engolir inteiro – mas não demora muito para que a formalidade forçada ao nosso redor se dissipasse. Nós logo somos apenas duas mulheres de vinte e poucos anos, discutindo animadas sobre Mulan de 1998 (outro filme da Disney previsto para um remake em live-action). Particularmente, o momento em que a homônima heroína supera o fracasso, prova a si mesma para os outros soldados, e escala até o topo do mastro de madeira que ninguém mais havia conseguido conquistar. “É a metáfora perfeita de uma mulher em um mundo de homens,” ela diz. “Pois para a mulher, muitas das vezes, existe essa sensação de que devemos trabalhar duas vezes mais pesado.”
Scott também dá créditos a Mulan por tê-la ajudado a enxergar além das limitações que as garotas são ensinadas a colocarem em si mesmas, e a presunção de que elas não têm direito de competir com os meninos. “Eu não sei de onde isso vem,” ela diz. “É muito do subconsciente e pode ser muito sutil, sabe? Eu cresci rodeada por uma família maravilhosa.” Scott nasceu em Hounslow, Londres, porém sua família se mudou mais tarde para o leste, do outro lado da cidade, para Woodford. Sua mãe, que é de descendência gujarati indiana, nasceu em Uganda, enquanto seu pai é inglês. “Eu não fui ‘desligada’ de modo algum, mas é só a sociedade em geral, certo?” Scott continua. “Parece tão simples, mas por algum motivo, sempre teve essa coisa de: ‘Não, você não consegue.'”
Ainda, enquanto a princesa dos anos 90 pode ter parecido empoderada para uma geração, os tempos mudam.
“Eu amava essa personagem,” Scott diz sobre a Princesa Jasmine. “Ela era a minha princesa da Disney favorita e ela fez-me sentir empoderada. Ela se posicionou, ela queria lutar pela escolha de casar. Mas no nosso filme ela é muito mais ativa.”
Claro, ela ainda tem que escolher um pretendente no infinito desfile de pretendentes escandalosos aparecendo na sua porta (incluindo o Príncipe Ali, que na verdade é o “rato de rua” Aladdin, promovido com uma nova identidade após usar um dos três desejos do Gênio), mas agora ela tem um controle bem maior na lei de Agrabah. Ela vem para destruir o conselheiro de seu pai, o vilanesco Jafar, que tem seus próprios planos de tornar o reino em um vasto império. E em nenhum momento ela precisa colocar uma roupinha sexy vermelha e seduzi-lo, como a Jasmine de 15 anos faz no original. “Ela estudou tudo,” Scott conta. “Ela é uma política. Eu queria que ela tivesse tato e fosse forte, pois ela não está dizendo que quer liderar só por dizer. Ela está apresentando habilidades de liderança.”
Essa Jasmine é também mais madura do que sua precedente, uma vez que Scott não queria interpretá-la “tão nova e extravagante.” Ela acrescenta: “Há o senso de que ela conhece a situação em que se encontra. Ela entende porque seu pai é superprotetor, ela cronometra o Jafar. Ela vê tudo.”
A Jasmine refeita no século 21 ganha seu próprio mostruário musical em “Speechless”, um marcante novo número com música de Alan Menken, que compôs o filme original, e letras da dupla de La La Land, Benj Pasek e Justin Paul. Musica, em verdade, foi o primeiro amor de Scott. Ela apresentava na banda de jovens na Bridge Church em Woodford, onde ambos pais são pastores. Um momento fundamental chegou quando ela cantou “Say a Little Prayer” da Aretha Franklin num acampamento local de verão. “Eu me recordo ficar tipo: ‘Eu não acho que estou sendo delirante aqui. Acho que eu tenho uma voz realmente boa,'” ela diz. Daí em diante, o único futuro que ela viu para si foi como artista. Sua primeira revelação veio como cortesia do House of Mouse, com papéis na série do Disney Channel UK, Life Bites, e o filme Lemonade Mouth de 2011. Ela também lançou dois EPs e uma linha de singles.
Scott foi criada na música gospel, e é informalmente seu estilo desde então, o que significa que Aladdin marcou um maior departamento para ela – ela nunca teve aulas de canto, e certamente não foi classicamente treinada. Mas era importante para ela que a Jasmine mantivesse essa inexperiência. (Para demonstrar o oposto, Scott começou a vocalizar como a Branca de Neve e eu meio que esperei que um pássaro voasse pela janela e pousasse em seu dedo.) A atriz cantou muitos de seus números ao vivo. “Eu quis que parecesse o mais natural possível, sabe?” ela explica.
“Speechless”, em particular, funciona como um hino de poder, alinhado com o “Livre Estou” de Frozen. A Jasmine teve que sorrir e tolerar muitos abatimentos vindos de Jafar, um homem que acha que ela seria melhor ficando calada e complacente. Como Scott percebeu, é um momento que muitas mulheres podem se relacionar. Para ela, significa a percepção de Jasmine de que “eu posso perder essa briga, mas é válido que eu fale algo, pois eu tenho uma voz.” A atriz não só apresenta a música, ela a libera como um rugido, conforme as lágrimas escorrem por seu rosto e as veias de sua testa saltam. “Eu quis que ela tivesse essa chama dentro de si,” ela diz.
Além da Jasmine, o novo Aladdin também carregou a responsabilidade de atacar o legado original de representação cultural: para alguns, significou muito crescer com personagens que na verdade parecessem com eles, enquanto outros discutiram que os esteriótipos apresentados terminaram fazendo mais estragos do que fazendo bem. A letra “onde eles cortam a sua orelha se não gostarem da sua cara” por exemplo, foi removida do número de abertura “A Noite na Arábia” após protestos do comitê de árabes americanos anti-discriminação e o acadêmico Jack Shaheen.
Enquanto a animação usou elenco de dubladores brancos, o novo remake colocou ênfase na diversidade de seus protagonistas. Ao lado de Scott, Mena Massoud, que interpreta o Aladdin, nasceu no Cairo de país cópticos egípcios e emigrou para o Canadá quando era novo. Marwan Kenzari, que interpreta o Jafar, é holandês, nascido de pais tunesinos. “Estou tão orgulhosa de quão diverso o nosso elenco é,” diz Scott. “Para mim na infância, a Jasmine era a minha princesa, provavelmente porque eu me via nela. Ela era alguém que eu poderia interpretar.”
Talvez como um cabeceamento do material de pesquisa da história, Mil e Uma Noites, uma coleção de folclores com raízes através do Oriente Médio e Ásia, o Aladdin original desenhou um misto de culturas para criar a cidade fictícia de Agrabah. Scott, certamente, tomou os elementos do Sul Asiático quando criança. “Isso soa bobo, mas mesmo algo como Rajah [o tigre da Jasmine], eu lembro de ser algo super simbólico na cultura indiana.”
É uma abordagem que tem sido adotada de maneira ainda mais apaixonada para o remake. Scott descreve o cenário do filme como um “portão para o mundo oriental”, com o time de produção desenhando de influências do Oriente Médio, sul asiático e até chinesas. “Nós criamos um mundo que várias pessoas diferentes podem pegar as coisas e levar com elas,” Scott conclui. “Eu acho que, principalmente para as crianças pequenas, ver elas mesmas num personagem é realmente poderoso. Mesmo se elas não pegaram os detalhes, as coisas pequenas, elas provavelmente pegam isso subconscientemente. Para mim, isso é bonito.”
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Fonte: The Independent
Tradução & Adaptação: Equipe Naomi Scott Brasil