Após o sucesso de bilheteria de Sorria 2 nos Estados Unidos, Naomi Scott conversou com a Vanity Fair sobre sua parceria com Parker Finn, os desafios encontrados em atuar em um filme de terror e sobre sua carreira. Confira:
É difícil de acreditar que a Naomi Scott com quem eu acabei de conversar no Zoom — calma e esperta e charmosamente confortável em sua casa em Los Angeles — é a mesma pessoa a conduzir uma aula magna de histeria em Sorria 2, atualmente o filme em primeiro lugar nos Estados Unidos. Ela tem escutado com frequência a esse tipo de comentário. Mas a atriz e musicista britânica, até esse ponto mais conhecida por seus remakes nas telonas de Aladdin e As Panteras, entrou na agitada sequência de terror pronta para dar tudo de si.
Do momento em que o roteiro do diretor e roteirisra Parker Finn cruzou o seu caminho, Scott sentiu uma conexão intrínseca com o papel de Skye Riley, uma popstar cujos problemas com fama e vícios coincidem com a contaminação da maldição mortal da entidade de Sorria. E do momento em que ela começou a gravar, ela provou o quão longe estava disposta a ir.
O filme, é claro, exigiu que ela fosse muito longe. Scott grita, e chora, e dança, e canta e, sim, sorri durante sua trajetória horripilante e cheia de reviravoltas com um comprometimento implacável. Mesmo para seus fãs de carteirinha — Scott participou da série Life Bites do Disney Channel, e mais recentemente brilhou em um papel pivô em Anatomia de um Escândalo da Netflix — seria difícil saber que ela tinha esse tipo de visceralidade na atuação presente nela. Durante nossa conversa, Scott abertamente admitiu sentir uma “atriz de araque” na indústria, procurando por esse tipo de desafio intenso em trabalhos e falhando, até agora.
Isso explica uma parte de, por mais exaustivo para a Naomi que tenha sido fazer esse filme, você não vai escutar ela falando nenhuma coisa ruim sobre a experiência. “Eu preciso ir ao objetivo, cara”, ela diz. “Para que mais eu estou fazendo isso se não para chegar no objetivo?” Com base na sua resposta ao filme e no seu trabalho até então, essa não será a última vez.
Vanity Fair: Esse é um grande, exigente trabalho para você. Você se sentiu nervosa sobre como o filme performaria e como seria recebido?
Naomi Scott: A resposta sincera é não. Eu não tive nenhum nervosismo sobre ele saindo para o mundo. Eu estava só empolgada. Teve um momento em que o Parker me trouxe para a edição. Ele é uma força criativa empolgada, e eu acho que é por isso que nós dois trabalhamos tão bem juntos; ele falou tipo ‘vem aqui pra assistir algumas cenas’. Isso foi algumas semanas depois de encerrarmos as gravações, então eu fui. Eu vi só algumas cenas e já estava, ‘Eu amo isso, e eu sei que eu vou amar muito isso’. Perceber a bênção que está no amor criativo em que você colocou tanto de si, que as partes que estão fora do meu controle na verdade resultaram em algo que eu pessoalmente estou curtindo até o enésimo grau — é um baita presente. Então não teve nervosismo. Mesmo quando eu vi o corte que Parker me mostrou, eu só amei o filme, cara. Eu estava tipo, ‘isso é tão perturbador. É tão engraçado’. [Ri] O Parker fez isso, a equipe fez isso, eu fiz isso, ponto final. Isso é o que fica. E quando meus filhos crescerem, eu vou falar ‘olha o que a sua mãe fez’. Quão legal é isso?
Pode ser difícil para algumas pessoas alcançar esse tipo de mentalidade nesta indústria, que foca tanto em comparação e em ‘aproveitar a oportunidade enquanto o ferro está quente.’ Mas eu também não acho que ninguém estava pensando: ‘Ah, Naomi Scott, vamos ver o que ela vai fazer!’ Não existia essa pressão. Não acho que ninguém realmente estava focado em como seria a performance da Naomi Scott em Sorria 2. [Risos] Sabe o que quero dizer?
Sim. Mas agora estão.
Aparentemente!
Eu conheço bem o seu trabalho, e, com base na sua filmografia, esse parece ser o papel mais intenso que você teve a chance de interpretar. Já enfrentou um desafio como esse?
Não — com todos esses desafios juntos, não. Primeiramente, essa é uma boa pergunta porque eu realmente não tinha pensado nisso até você perguntar. Na verdade, olhando para minha carreira, a fisicalidade de algo que exige muito de você, cantar, dançar — existem elementos disso que eu já experimentei. Tive alguns desses desafios, só que não todos juntos. Me perguntam ‘como você fez isso?’ e nem sempre sinto que tenho a melhor resposta como atriz, porque realmente não tenho. Eu sentia uma compreensão inata da Skye; eu tinha muita certeza de como abordaria esse papel. Eu tinha muita clareza sobre minha abordagem. Estranhamente, tudo parecia muito natural para mim. Não tive um longo tempo para me preparar, então também não fiquei pensando demais nisso. Foi um exercício de confiança comigo mesma.
Pode falar um pouco mais sobre essa compreensão inata da Skye?
Todo mundo entende o que é se sentir incompreendido. Mas também o fato de ela operar em um nível de excelência tão alto no que faz. Adoro o fato de que ela simplesmente não vê as pessoas ao redor dela; são mais como obstáculos para ela alcançar seu objetivo. Todos nós temos um pouco disso. Eu talvez não trate as pessoas assim, mas todos temos essa ambição e força de vontade. Algumas pessoas não acham que sou eu na cena do carro com o Ray Nicholson. Acham que é outra atriz. Eu fico sem saber se devo me sentir ofendida ou levar isso como um elogio. [Risos] E na cena congelada, muitos não percebem que sou eu. Até a irmã de uma amiga disse, ‘achei que tinham colocado uma dublê.’
E essa cena levou quatro dias para você filmar?
Sim, foram quatro dias. Foi bem difícil. Acredite em mim, eu senti tudo aquilo. Foi também uma refilmagem, e devo acrescentar, muito bem pensada e precisa por parte do Parker. Como observação, não teve nada que filmamos que não está no filme. Isso também é uma prova da visão do Parker. Teve uma parte no final da cena que foi cortada, mas fora isso, tudo está lá. Ele realmente vê o filme completo. Com aquela personagem, que chamamos de Skye do Mal, eu não tinha pensado no que ia fazer até estar ali. Eu só pensei: ‘precisamos ir com tudo nisso. Tem que ser absurdo.’ É engraçado porque eu só estava experimentando naquela altura. Às vezes é isso mesmo. Você entra e se joga. E foi o que aconteceu.
Você se surpreendeu?
Sim e não. Eu me surpreendi, mas vou colocar assim: li o roteiro e pensei, ‘me coloca em campo, treinador.’ Era isso que eu queria. Me dê o desafio. Eu disse ao Parker: ‘entendo o que isso exige, mas também sei que nada realmente prepara você para essa experiência específica.’ O que me surpreendeu foi que eu estava nervosa: ‘ao fazer isso, será que eu vou me perder?’. Não digo no sentido de uma coisa meio ‘ator de método’. ‘Será que vou precisar me isolar completamente?’. Mas não foi o caso. Claro que eu estava conservando minha energia e me focando onde podia e me sentindo completamente exausta aqui e ali. Mas eu não me perdi de forma alguma.
Já tive momentos na minha vida e carreira em que me senti meio uma impostora, no sentido de que não fui para uma escola de teatro. Não tenho um processo específico. Existem versões dessa ideia de “processo” que às vezes você ouve e pensa: ‘meu Deus, eles realmente levam isso a sério, né?’ Eu não poderia levar isso mais a sério. Só abordo de forma diferente para tirar o melhor de mim. Acho que cheguei a um ponto como artista em que estou muito mais confortável com isso. Não sinto a necessidade de dizer: ‘ah, eu fui e vivi em tal lugar.’
Você mencionou exaustão. Então, embora eu entenda tudo o que você está dizendo, seria correto dizer que isso teve um custo?
Eu geralmente gosto de focar no fato de que tive a oportunidade de fazer isso. Eu pude me forçar a chegar a esses limites. Muitas vezes eram tomadas técnicas e, ao mesmo tempo, emocionalmente intensas. Esse foi um desafio específico desta produção, mas o Parker e eu… estávamos sempre conversando. Ele perguntava: ‘você consegue mais uma vez?’, e nove entre dez vezes, eu respondia: ‘eu quero acertar. Quero fazer a tomada perfeita.’ E essa geralmente era a boa. Isso aconteceu várias vezes. Ele visualiza o filme na cabeça, então não pode haver ponto fraco. Ele quer que tudo esteja excelente — o movimento da câmera, isso e aquilo, todos esses detalhes se somando. E é por isso que fazemos isso.
Aliás: sim, eu estava exausta. Como nunca estive antes na minha vida. Sim, foi a coisa mais difícil que já fiz em toda a minha vida. É verdade, mas não é algo negativo. Eu aprendi muito sobre mim mesma. Tive um apoio incrível em casa. Eu pude ir até o objetivo, entende? Para que mais eu faria, se não fosse para atingir o objetivo? Eu queria essa profundidade criativa, fazer algo assim, há muito tempo. Então, por que eu lamentaria agora?
Certo — este é seu primeiro filme lançado nos Estados Unidos em cerca de quatro anos. Você poderia falar um pouco mais sobre —
— por que eu não trabalhei? [risos]
Bom, onde você estava quando recebeu esse roteiro? Estava esperando algo assim? Estava recusando outros papéis?
Vou ser bem honesta com você. Primeiro, alguns filmes que fiz recentemente, não sei se algum dia vão sair. Eu poderia dizer que estava só esperando por isso. Mas não é verdade. Estive tentando de tudo e só não consegui os papéis. Só não consegui o papel certo. Mas, sim, acho que mudei e me tornei mais seletiva. Acho que é isso que você está querendo dizer, o que é verdade — e significa que realmente estou tentando projetos pelos quais me importo e acho incríveis. Nove em cada dez vezes, não deram certo para mim. Esse é o jogo. É assim que a indústria funciona. E tudo bem. Então foi uma combinação de coisas que nem sempre deram certo para mim e também de ter o privilégio de poder dizer não — o que é algo a valorizar. E, sim, recusei outros papéis várias vezes.